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27/10/2019 | 17h09 - Atualizada em 27/10/2019 | 17h54

Procuradoria Especial da Mulher realiza caminhada pela prevenção e combate ao câncer de mama

Reportagem: Andrea Santos

Edição: Syanne Neno

"Tenho uma amiga que enfrenta essa doença e perdi uma prima no dia 9 desse mês também para o câncer de mama. Acho importante esse trabalho da Procuradoria Especial da Mulher da Alepa, junto com a Bancada Feminina. Participo para mostrar que todas devemos ajudar um ao outro, mas precisamos de melhores atendimentos nos hospitais que fazem o tratamento, minha amiga tem dificuldade de realizar exame, de conseguir sua medicação. Peço por favor, aos nossos representantes, que nos ajudem, ainda é muito falho o tratamento da doença no Pará", contou Anete Nascimento, de 60 anos, que participou da primeira caminhada da Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) com o tema: Outubro Rosa: Prevenção e Combate ao Câncer de Mama. O evento foi realizado na manhã deste domingo (27), com presença das deputadas Ana Cunha, professora Nilse Pinheiro e Michelle Begot. Faltavam 5 minutos para as 9 horas quando cerca de 700 mulheres subiram a avenida Presidente Vargas, em Belém, em direção à praça da Batista Campos, com o objetivo de chamar a atenção para a prevenção da doença.

"Há três anos recebi o diagnóstico de câncer de mama, foi um choque. Não me olhava, um dos meus erros e da maioria das mulheres. Eu trabalhava muito e estava numa viagem a trabalho quando meu lado esquerdo paralisou, foi o primeiro sinal. Fui ao médico e ele disse que poderia ser coluna, fui medicada sem saber de fato o que seria. Ao retornar para Belém, quando estava numa palestra fui tentar segurar uma pasta e não tive como, foi o segundo sinal. A partir daí fui verificar o que eu tinha e para minha surpresa, era câncer de mama. Recebi o resultado com dois dias, abri e vi quatro manchas no meu seio esquerdo, li o laudo, a partir de então fui para inúmeras consultas, vários dias para conseguir a minha primeira no Hospital Ophir Loyola. Fiquei revoltada com o que presenciei ali, mas hoje sigo firme na luta, ajudando a outras mulheres. Estou curada do câncer de mana e sei que muitas conseguem, mas precisei ir para o Ministério Público atrás dos meus direitos" contou a servidora pública Eliana Maria da Costa Rodrigues, 54 anos.

"Fizemos uma série de atividades, dentre elas essa caminhada, onde buscamos através dela a importância da prevenção do câncer de mama e de útero. Nós, enquanto representantes das mulheres do povo desse Estado, estamos trabalhando para que haja uma redução dessa doença no Pará. Digo a todos que a Bancada Feminina, junto com a Procuradoria da Alepa, busca junto ao governo do Estado um atendimento e tratamento mais digno a todas as mulheres que estão na luta. Estamos também trabalhando para todo o Estado do Pará", destacou a deputada Nilse Pinheiro, da Procuradoria Especial da Mulher

"O autoexame da mana pode ser feito por você mesma mulher, se observe todo mês. Sei que não é fácil ir a uma consulta quando se tem uma rotina puxada, mas é necessário. autoexame, é o primeiro exame antes da mamografia, se ame. Faça também seu exame do colo uterino, não deixe para se olhar somente no mês de outubro, olhe com atenção para sua saúde. Nosso trabalho na Alepa tem se intensificado, buscamos proposições que vão de encontro às necessidades da população, debatemos assuntos para a melhoria do Pará, essa caminhada terá um resultado positivo para todas as mulheres", disse a deputada Ana Cunha, médica ginecologista e obstetra.

Para a deputada Michelle Begot, a caminhada além de ter sido muito boa, o que fica também é a marca de um trabalho pela prevenção: "Foram várias mulheres e homens também mostrando o seu apoio pela prevenção, que é ainda o melhor caminho. Cada mulher deve ter a conscientização da importância de procurar um médico, de fazer seu autoexame", falou.

"Essa caminhada é uma resposta para a sociedade, essa Legislatura tem sido mais presente em diversas áreas e a saúde, a luta pela prevenção do câncer de mama e colo de útero não poderia ficar de fora é claro. As mulheres são a maioria no Brasil e devemos nos unir nesta luta. Buscando o apoio do Poder Legislativo e Executivo, vamos mudar o índice de câncer de mama e colo de útero no Estado do Pará", falou Úrsula Vidal, secretária de Cultura de Estado.

Programação- Entre as atividades previstas, ainda para o Outubro Rosa, na Alepa, haverá uma Sessão Solene dia 31 onde serão homenageados profissionais que são referências nas ações de combate e prevenção ao câncer de mama no Estado do Pará.

Estatística- O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no mundo todo, depois do câncer de pele não melanoma. Representa cerca de 25% de todos os casos novos de câncer. São 1,38 milhões de novos casos e 458 mil mortes pela doença por ano, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer) mostram que em 2019, 59.700 mulheres devem desenvolver câncer de mama no Brasil. A Região Norte deve registrar 1730 casos novos até o final de 2019, sendo 740 novos casos no Pará e 360 em Belém.

Como em quase todo o mundo, a incidência brasileira do câncer de mama vem aumentando ano a ano a uma taxa de cerca de 2% anuais. As causas dessa tendência de aumento são multifatoriais. Cada fator influencia o risco parcialmente, o que contribui para um aumento agregado no número de novos casos. Atualmente, o câncer de mama é o terceiro tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil.

Dificuldade- A mamografia no Brasil tem o pior cenário dos últimos seis anos. Pesquisadores da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), em parceria com a Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia, acabam de concluir um estudo que revela que o percentual de cobertura mamográfica de 2018 nas mulheres na faixa etária entre 50 e 69 anos atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é o menor dos últimos seis anos, com uma cobertura bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Prevenção- A adoção de hábitos saudáveis, como uma boa alimentação e exercícios físicos regulares, representa o que os especialistas chamam de prevenção primária, que pode evitar alguns tipos de câncer. O câncer é uma doença que resulta da interação entre fatores ambientais e genéticos do indivíduo. Entretanto, uma parcela pequena dos tumores malignos são considerados hereditários (até 10%). A maioria está relacionada à exposição a fatores ambientais.

O diagnóstico tardio, ainda predominante no Brasil, aumenta muito a gravidade da doença e os índices de mortalidade. A informação e a prevenção são as principais armas contra a doença. O câncer de mama é uma doença grave, mas quando é diagnosticado precocemente as chances de cura chegam perto de 100%.

A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que toda mulher, a partir dos 40 anos, faça a mamografia, nas duas mamas, anualmente. O exame é capaz de detectar o câncer de mama quando ele ainda está no inicio. O autoexame é essencial para a mulher conhecer o próprio corpo e reconhecer se há algo de errado, mas não substitui a mamografia. Um tumor só pode ser sentido quando já está maior, a pessoa só consegue palpar nódulos com cerca de um centímetro ou mais. Já a mamografia é capaz de identificar tumores a partir de 2 a 3mm.

A consulta com o especialista deve ser anual. Vale lembrar que nem toda alteração nas mamas é câncer e a maioria das alterações é benigna, mas é fundamental que a mulher procure o médico para esclarecer qualquer alteração na mama. O exame clínico e da mamografia são os mais importantes. O ultrassom e a ressonância magnética das mamas são exames para rastrear o câncer, mas não substituem a mamografia.

Estilo de vida- A principal razão está na mudança de estilo de vida que vem ocorrendo com os tempos modernos. Em apenas uma geração, grandes mudanças aconteceram nas vidas das mulheres. O número de filhos reduziu drasticamente. A taxa de fecundidade (número médio de filhos por cada mulher) no Brasil na década de 60 era de 6 filhos. Em 2015 passou para 1,72. As mulheres também tinham o primeiro filho mais jovens do que atualmente.

Hormônios- A mama é um órgão rico em receptores hormonais e responde à variação hormonal do ciclo menstrual. Esse estímulo hormonal periódico continuado parece estar relacionado ao aumento do risco. Além disso, a amamentação induz a modificações celulares nas mamas (diferenciação tecidual), que confere um fator de proteção. Estima-se que cada ano de amamentação reduz relativamente 4,3% no risco do câncer de mama. O aumento na utilização da reposição hormonal combinada na pós-menopausa também está associado a esse incremento no número de casos.

Obesidade- Outro fator importante que impacta a incidência de câncer de mama se relaciona à obesidade. Há cerca de 40 anos, tínhamos 40% menos calorias na dieta do brasileiro. Hoje vivemos uma epidemia de sobrepeso e obesidade. O tecido gorduroso é fonte de produção de hormônios que estão implicados na gênese do câncer e o aumento do peso eleva a concentração de substâncias no sangue relacionado à inflamação que induzem mutações genéticas. Quando ingerimos um alimento calórico, modificamos o metabolismo da insulina e da glicose. A glicose elevada e outras proteínas desse metabolismo glicídico também conferem um incremento no risco. Estudos comprovaram uma relação direta entre o estado pré-diabético e o câncer. O sedentarismo também é outro fator de risco.. A prática regular de atividade física associada ao controle de peso e alimentação saudável pode reduzir o risco do câncer de mama de 15% a 30%. O consumo de álcool tem aumentado significativamente nos últimos anos entre as mulheres e esse consumo excessivo também colabora para o aumento do risco porque o álcool induz a uma elevação dos níveis do estrógeno no sangue.

Pará: O Estado tem capacidade de realizar 350 mil mamografias ao ano com destaque no aumento de 10% na realização de mamografias de rastreamento em mulheres de 50 a 69 anos de idade, tendo sido realizadas 16.035 de janeiro a junho de 2019, contra 15.643, no mesmo período de 2018. O Pará pretende mudar o cenário do câncer de mama, que é apontado como o segundo entre as mulheres, perdendo apenas para o de colo do útero. De acordo com a Coordenação Estadual de Atenção Oncológica, o Pará registrou 627 casos de câncer de mama em 2017, 659 em 2018 e 250 em 2019 até o momento. Desse quantitativo, 47% ocorreram em mulheres na faixa etária entre 50 e 69 anos, seguida de 29% em quem possuía de 40 a 49 anos. Considerando esses números, que ainda preocupam, além de trabalhar na ampliação de serviços para cumprir a lei 12.732, que estabelece 60 dias no máximo entre o diagnóstico e o início do tratamento para pacientes com câncer, a Sespa atua junto às instituições do SUS para que reduzam cada vez mais esse tempo.