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05/06/2020 | 13h15 - Atualizada em 05/06/2020 | 13h44

Em reunião remota, prefeitos e secretários do Marajó relatam dificuldades no combate à Covid-19

Reportagem: Mara Barcellos

Edição: Syanne Neno

A Ilha do Marajó é considerada a maior ilha fluviomarinha do mundo, com uma área de aproximadamente 40.100 km². É cortada por águas fluviais e Oceano Atlântico. A Região é formada por 16 municípios, com aproximadamente 500 mil habitantes, segundo dados do IBGE de 2010, e possui o menor índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, reflexos da ausência de políticas públicas.

Historicamente abandonada, tanto a economia, a educação e a saúde sofrem com a falta de recursos financeiros, poucos equipamentos hospitalares e infraestrutura predial ultrapassada e inadequada para enfrentar a pandemia.

Foi pensando em ouvir as ações e as principais dificuldades enfrentadas pelas prefeituras que compõem a Região do Marajó, que a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) reuniu, por videoconferência, 15 gestores públicos que relataram durante cinco horas suas experiências e desafios para salvar vidas.

O encontro virtual aconteceu nesta quinta-feira (04.06), conduzido pelo presidente da Comissão de Saúde, deputado Dr Jaques Neves, e contou com a participação da deputada Ana Cunha, autora do requerimento que instituiu a reunião, Dra Heloísa Guimarães, Professora Nilse Pinheiro e Dr Galileu. Representando a Casa Civil, esteve participando Josenir Nascimento.

Entre os principais relatos, histórias de muitas dificuldades, perdas por falta de infraestrutura adequada e esperança de mais apoio para enfrentarem as adversidades econômicas e geográficas de uma região rodeada por muitas ilhas, o que encarece o custo do transporte fluvial, principal meio de acesso à população ribeirinha, pescadores, extrativistas, agricultores familiares e povos tradicionais como quilombolas.

A longa distância entre os municípios até as cidades de referência no atendimento à Covid-19, como Breves, é um dos problemas enfrentados para atender a população local. Além disso, a maioria das comunidades está localizada em ilhas, e algumas levam até 36 horas de barco, como é o caso de Portel. Poucos municípios marajoaras possuem ambulanchas, a maioria usa lanchas ou as alugam para socorrer os pacientes. Isso impacta diretamente no tempo de transporte das pessoas, que muitas vezes não conseguem chegar a tempo para receber atendimento e acaba vindo à óbito.

A prefeitura de Curralinho possui um hospital antigo, com 25 leitos, equipamentos defasados, que requer reformas e aquisição de novos produtos hospitalares, além de respiradores e contratação de médicos. A prefeita, Alda Aires, reclamou da demora da logística no atendimento de pacientes quando são levados em estado grave para Breves, para serem atendidos no Hospital Regional do município.

"Já tivemos casos que levamos o paciente até o município de Breves e lá ele teve que esperar até 2 horas por uma ambulância para ser transportado até o hospital e receber o atendimento. Tempo é vida", relatou.

Para superar as dificuldades de distância, a população marajoara tem recebido apoio do Governo do Estado com serviços de resgate aéreo de pacientes em casos graves, que necessitam de atendimento na capital.

A distribuição de medicamentos e de Equipamentos de Proteção Individual (EPis) são também ações do Poder Executivo Estadual para fortalecer o trabalho de enfrentamento à pandemia na região.

O alto custo de um profissional médico para trabalhar na região também foi questionado pela prefeita de Curralinho. A diária custa em média o valor de R$ 2.400. Como solução para o problema, ela solicitou a contratação de médicos cubanos para a região.

"Peço que o Estado possa contratar mais médicos cubanos e enviar para a nossa região. Uma diária de um médico aqui está muito alta e inviável para o nosso orçamento", disse.

Afuá é uma das cidades da região que faz divisa com o Estado de Amapá e por ser mais próxima da capital de Macapá, encaminha os pacientes para o estado vizinho. É uma cidade repleta de canais e palafitas e o acesso é feito por bicicletas, o que dificulta o atendimento.

"É difícil fazer o atendimento em uma cidade que não tem carros, só bicicletas. Um frete de avião para Belém é de 6 mil a 7 mil, e não temos recursos para isso. Um viagem para Breves, de lancha, demora 5 horas, enquanto para o Amapá se faz em 2 horas", disse o prefeito de Afuá, Mazinho Salomão.

Como na maioria dos municípios da região, a falta de respiradores tem sido uma das preocupações dos gestores. O alto custo dos cilindros também dificulta a aquisição.
O prefeito de Muaná, Eder Magalhães (Biri), revelou que faltam respiradores para atender à população, que precisa de um atendimento mais adequado em casos de pacientes com dificuldades de respiração.

"Precisamos de respiradores e as unidades de cilindros estão custando R$ 2 mil reais, é muito caro para a nossa realidade. Também estamos precisando de aparelhos de raio X ", observou.

Outro problema relatado pela maioria dos prefeitos e secretários de saúde marajoara está relacionado ao sistema de regulação de pacientes encaminhados em estado grave para Belém. A regulação é realizada pela Secretaria Estadual de Saúde (Sespa), mas segundo os depoimentos, está sendo muito demorada.

"O acesso pelo sistema de regulação está demorando muito e isso vem dificultando o atendimento de pacientes que chegam em Belém e precisam de socorro nos hospitais de referência para o tratamento da Covid. Queremos um olhar diferenciando para a nossa região nesta questão", questionou Jaime Barbosa, prefeito de Cachoeira do Arari.

Para explicar o motivo da demora na regulação, o coordenador da 8ª Regional de Regulação, Edivar Filho, disse que o sistema agora é feito todo por Belém.

"A regulação antes era realizada pelo regional de Breves, mas atualmente é regulado por Belém, através da Sespa. Esses casos poderiam ser resolvidos aqui no regional de Breves", esclareceu.

Após ouvir os agentes públicos, o deputado Jaques Neves propôs, por meio de requerimento, visitas aos municípios da região, para conhecerem melhor a realidade e a infraestrutura na área da saúde. Todos os deputados presentes aprovaram a proposta.

"Há muito tempo o Marajó sofre com a questão da saúde. Cada palestra que ouvimos nos convenceu a irmos até os municípios. Nós precisamos conhecer e ver essa vivência de cada gestor, principalmente neste momento tão terrível que nós vivemos, de pandemia no nosso Estado", disse.

"Vamos destinar emendas coletivas para trabalhar no sentido de conseguir ambulâncias e ambulanchas. Depois, trabalhar na questão de EPIs e medicação, e vamos ver se conseguimos a questão de oxigênio, que é muito importante ", concluiu.

A deputada Ana Cunha destacou a importância da reunião como forma de ampliar o conhecimento sobre a realidade da região.

"Fico muito feliz em ver que com essa reunião, mesmo de forma remota, conseguimos escutar todos os prefeitos ao mesmo tempo, e isso facilita o nosso conhecimento da regionalidade da saúde de cada município. O mais importante de tudo é ver o empenho de cada prefeito e secretário na luta pela vida. Nossa preocupação é ajudar esse coletivo", ressaltou.

Representando a Casa Civil, Josenir Nascimento ressaltou algumas ações por parte do Governo do Estado para atender às reivindicações dos agentes públicos do Marajó.

"Em relação aos medicamentos, o governo vai distribuir mais medicamentos e a gente espera atender as prefeituras. Hoje, o papel do estado é atender e ajudar a atenção básica. O governo e a Sespa vêm trabalhando para apoiar a atenção básica nos municípios. Também estamos vendo a possibilidade para liberar as emendas parlamentares para conseguir avançar na compra de ambulâncias e ambulanchas", finalizou.

Participaram da reunião representantes dos seguintes municípios:
Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Cachoeira do Arari, Curralinho, Gurupá, Muaná, Ponta de Pedras e Portel, além de servidores da 8ª Regional, com sede em Breves.