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19/01/2022 | 15h33 - Atualizada em 19/01/2022 | 15h43

Iniciativas parlamentares fortalecem ações de prevenção ao câncer do colo de útero

Reportagem: Mara Barcellos

Edição: Dina Santos

No Brasil, o mês de janeiro é dedicado à prevenção contra o câncer de colo de útero. De acordo com o INCA - Instituto Nacional do Câncer, o tumor de colo de útero é o 3º tipo mais frequente na população feminina, atingindo mais de 16.710 mulheres por ano, no Brasil (estimativa de novos casos por ano no triênio 2020/2022).

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), tirando o câncer de pele não melanoma, o câncer de colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás do câncer de mama e do colorretal), e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Não bastasse isso, há outros tipos de câncer relacionados ao HPV, como os de boca e orofaringe, vulva, pênis e canal anal.

Segundo o INCA, a estimativa é registrar 780 novos casos no Pará e 110 em Belém até o final de 2022. A região Norte é a única no Brasil em que a incidência do câncer de colo de útero supera a do câncer de mama.

Alepa - Diante da incidência da doença entre as mulheres paraenses, o tema é um dos assuntos recorrentes em plenário na Assembleia Legislativa do Pará, com propostas efetivas como a lei que institui a Semana Estadual de Prevenção ao HPV e ao Combate ao Câncer do Colo de Útero.     

O projeto inicial foi apresentado pela deputada, ginecologista e obstetra, Dra Ana Cunha e recebeu nova redação por iniciativa da parlamentar e também médica Dra Heloísa Guimarães – possibilitando às mulheres maior acesso aos serviços de prevenção e tratamento a esse tipo de câncer.

Deputada Ana Cunha

“A implementação de políticas públicas que possam atuar na prevenção de doença é fundamental, seja no processo de prevenção, que assegura por si só o diagnóstico precoce, mas também pelo fato dos custos baixos de tratamento que decorrem de um diagnóstico inicial”, justifica Ana Cunha.

As ações são realizadas pelo Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). As campanhas intensificam as orientações às equipes das secretarias municipais de Saúde para que possam identificar mulheres que nunca fizeram o exame preventivo -  o PCCU - ou que estão há alguns anos sem realizá-lo.

O atendimento inicia a partir de consultas médicas e em casos de suspeitas, o profissional encaminha a paciente ao centro de referência adequado para obter diagnóstico do quadro clínico, mediante exames preventivos como Papanicolaou ou PCCU.

Deputada Heloísa Guimarães

“O projeto visa a regulamentação, no âmbito do Pará para realização de campanha nacional de combate ao câncer do colo útero, como também a conscientização dos gestores e profissionais de saúde para intensificar as ações e procedimentos de saúde para esse tipo de câncer em todos os municípios do Pará”, explica a deputada Heloísa.

De acordo a legislação, o Poder Executivo tem a responsabilidade de manter a vacina disponível nos Postos de Saúde gratuitamente para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Apesar de ser mais eficaz quando administrada em meninas antes do início da vida sexual, se espera que mulheres mais velhas, igualmente, possam se beneficiar do uso da vacina.

Prevenível - Uma vacina capaz de evitar o câncer. Para quem conhece minimamente o assunto parece impossível. Afinal, existem mais de 200 tipos de câncer. O que chamamos de câncer são muitas doenças diferentes. Mas, uma pesquisa publicada recentemente na The Lancet, uma das revistas científicas mais importantes do mundo, faz repensar essa possibilidade, pelo menos com relação ao câncer de colo de útero.

O resultado da pesquisa da Lancet é extremamente animador sobre a eficácia da vacina contra o HPV no combate o câncer de colo de útero. Os pesquisadores da Escola de Câncer e Ciências Farmacêuticas da King's College, de Londres, constataram que a vacina contra o HPV reduziu a incidência do câncer de colo de útero em 87% no grupo de mulheres que participaram da pesquisa e que tomaram a vacina quando tinham 12 ou 13 anos.

A saúde dessas mulheres foi acompanhada pelos pesquisadores desde 2008. É a comprovação científica de que a vacina contra o HPV é uma das armas mais importantes no combate ao câncer de colo de útero, que é um recurso capaz de erradicar a doença para as gerações futuras. 

O HPV é responsável por cerca de 90% os casos de câncer de colo do útero e a doença pode ser evitada com a vacinação em massa.

“O número anual de mortes por câncer de colo de útero é de cerca de 6 mil e 500 mulheres por ano, no Brasil. Veja se não é um absurdo total a gente perder tantas vidas por ano para um câncer que é totalmente prevenível”, afirma a oncologista Paula Sampaio.

Oncologista Paula Sampaio

“Por isso, o resultado dessa pesquisa é tão importante”, comemora a médica. “Se conseguirmos a vacinação em massa contra o HPV, que as pessoas usem preservativo e que as mulheres com mais de 25 anos façam o papanicolau, anualmente, estaremos no caminho da erradicação do câncer de colo de útero”, resume a médica.

Vacinação X negação - A maioria dos casos de câncer de colo de útero tem o diagnóstico em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e a cura. “É angustiante, pois sabemos que é um tumor que poderia ser evitado. Nos países que fazem a vacinação em massa e controle, como a Austrália, o número de casos de câncer de colo de útero é muito pequeno. Eles caminham para a erradicação da doença. No Brasil ainda temos uma incidência enorme, apesar de termos um Programa Nacional de Imunização que é referência no mundo, com as ferramentas necessárias para prevenir a doença”, avalia a médica.

No Brasil, a vacina está disponível na rede pública para meninas entre 9 e 14 anos e, para meninos, entre 11 e 14 anos. Essa faixa etária foi escolhida por ser a que apresenta maior benefício pela grande produção de anticorpos e por não ter sido exposta ao vírus.

O objetivo é que as crianças e adolescentes sejam vacinados antes de iniciar a vida sexual. “Não se trata de uma vacina contra DST´s (doenças sexualmente transmissíveis), é muito mais do que isso. É uma ferramenta eficaz na prevenção do câncer, mas boa parte da população não está aproveitando essa oportunidade por desinformação e preconceito”, lamenta a médica.

No Brasil, apesar de as doses estarem disponíveis nos postos de saúde, a cobertura vacinal contra o HPV é considerada "insatisfatória" por especialistas na área. Numa análise publicada no final de 2020, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) aponta que 70% das meninas de 9 a 15 anos e pouco mais de 40% dos meninos de 11 a 14 anos tomaram a primeira dose da vacina.

Na segunda dose, os índices de vacinados baixam para 40% e 30%, respectivamente. O ideal, segundo a entidade, é que as taxas atingissem os 80% em ambos os sexos. São números bem abaixo do esperado e dificultam o cumprimento da meta da OMS de eliminar o câncer de útero até 2030.

Um argumento comum para negar a imunização é a crença errônea de que a vacina seria um passe livre ou incentivo ao sexo entre adolescentes. “Os pais têm dificuldade de entender que não é uma liberação para a atividade, apenas uma vacina contra um vírus que pode resultar em câncer”, explica Paula Sampaio.

Também há muito preconceito em relação à vacinação dos garotos. “É necessário entender que a vacinação para o menino não é só para proteger a menina. Eles também estão sujeitos a outros tipos de câncer em que a imunização ajuda na prevenção”, lembra Paula.

Texto de Mara Barcellos e Dina Santos (AID)