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Modernismo no Pará a partir da Academia do Peixe Frito, com sede no Ver-o-Peso
Reportagem: Carlos Boução
Edição: Dina Santos
O centenário do modernismo literário no Pará foi tema de uma Mesa-Redonda, na manhã desta sexta (06), no auditório João Batista da Assembleia Legislativa do Estado do Pará, solicitado pelo deputado Thiago Araújo (Cidadania). A programação foi coordenada pelos professores Felipe De Campos Ribeiro, Paulo Nunes e Eduardo Neves. A reunião contou ainda com a presença do escritor, ator e professor paraense Homerval Thompson, da Academia Paraense de Letras (APL).
Professores Eduardo Neves, Felipe De Campos Ribeiro e Paulo Nunes
A semana de 22, como ficou batizada a Semana de Arte Moderna, considerada o marco oficial do movimento modernista no Brasil, ocorreu de 13 a 17 de fevereiro de 1922, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, que abriu suas portas para uma exposição de pintura e escultura, saraus e apresentações musicais do compositor Villa-Lobos e da pianista Guiomar Novaes.
Os escritores Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade; e os artistas Anita Malfatti e Di Cavalcanti, foram os principais nomes do evento. A ideia era provocar a imprensa, fazer muito barulho, para apresentar ideias de vanguarda, sendo realizada pouco tempo depois do fim da Primeira Guerra Mundial, da pandemia de gripe espanhola e no ano em que o Brasil celebrava o centenário de sua independência.
Para o professor Felipe De Campos Ribeiro, a Mesa-Redonda na ALEPA teve o objetivo de comemorar o centenário do modernismo nas artes no Pará, que não foi só literário, mais nas artes no Brasil. "Esta mesa redonda é um pontapé inicial no sentido de convocar autoridades públicas do Estado, ligadas à cultura, às artes, ao patrimônio, à memória, bem como os homens de Estado, os poderes diversos — executivo e legislativo, para organizar um circuito de eventos para o ano que vem", expressou De Campos Ribeiro.
Foram listados quatro grandes produtos e linhas de atuação, no sentido de debater o modernismo do Brasil, sua influência na Amazônia, em particular em Belém, e o protagonismo que aqui ganhou, a partir de um projeto com eventos e propostas para financiamento do Estado nas diversas esferas públicas e até na privada.
As linhas de atuação do grupo trabalhariam em quatro principais eixos, que são: 1. Reedição das obras da antologia dos principais nomes da geração peixe frito, Grupo dos novos, escritores da Belém Nova; 2. Criação de um site ‘online’ oficial da Geração Peixe Frito e do Grupo dos Novos; 3. Circuito de eventos culturais sobre os Cem Anos envolvendo Feira Pan - Amazônica do Livro, instituições de ensino e pesquisas e demais; e, 4. Construção de uma estátua representando a Geração Peixe Frito nas imediações do Ver-o-Peso.
Eduardo Neves
Eduardo Neves expôs as adequações que as propostas retiradas da reunião possam articular recursos nos diversos editais culturais, de patrimônio histórico, de Belém, do Pará e até em nível federal, buscando emendas parlamentares das diversas esferas.
Modernismo no Pará e a geração Peixe Frito
Para o professor e escritor Paulo Nunes, o modernismo no Pará inicialmente nada teria a ver com o de São Paulo. Ele considera que aqui o modernismo se inicia com o diálogo muito intenso e forte com o modernista pernambucano de Joaquim Gojosa e, a partir da reunião de um Grupo no Ver-o-Peso denominado Geração Peixe Frito, coordenado por Benedito Nunes, que contava com Alonso Rocha, Jurandir Bezerra, Haroldo Maranhão e Max Martins e, num momento seguinte depois do fechamento da Academia dos Novos, a eles juntaram-se Mário Faustino, Paulo Plínio Abreu, Ruy Guilherme Paranatinga Barata e Francisco Paulo Mendes.
Paulo Nunes
Com exceção de Mário Faustino, todos esses contavam com a experiência do movimento Modernista de 1930, pelo qual se iniciaram.
Na concepção de Paulo Nunes, não se pode se falar de modernismo na Amazônia sem falar do papel que Belém exerceu como uma das capitais referenciais do modernismo. "Não é possível falar em modernismo, renovação, se não escutarmos as vozes da floresta e dos rios", avaliava um modernista que morou em Belém". Para o ele, Belém com a geração Peixe Frito se transformou em uma das capitais mais referenciais do modernismo brasileiro, embora o Brasil e nem os belenenses saibam disso. Na avaliação de Nunes, as letras da literatura vinham com o caudal colonialista que soterrava as vozes tupinambás. "A nossa primeira e efetiva literatura, não é uma literatura das letras, mas uma das vozes, dos gritos tupinambás", avalia.
Ele historiou que na virada do século XIX para o XX, esse grupo liderado por Bruno de Menezes inverte a pauta cultural e literário em Belém, o Centro que era muito marcado pela herança parisiense, francesa, dos Cafés, os diversos que existiam no Centro da Cidade, que eram frequentados também por esses moços de periferia, Bruno Menezes, Jaques, De Campos, Paulo Oliveira, mas eles percebem que não eram os espaços deles e o espaço dele precisava ser um local onde confluía, vozes imaginárias e a diversidade do Estado do Pará, e o escolhido foi o Ver-o-Peso, por ali representar a diferença.
Homerval Thompson, da Academia Paraense de Letras
Diversos Brasis, Amazônia, Pará e Belém
No final dos anos 40, início dos anos 50, em torno da devoção à São Benedito, esse grupo se aglutina no Ver-o-Peso, tomando uma cachacinha tirando gosto com peixe frito, discutia política, cultura, literatura e por ali passava toda uma socialidade, de uma forma de ver e de registrar que está nas obras de Bruno Menezes. Então eles passam a pautar a literatura paraense não esquecendo suas origens humildes, de pretos, de índios, de caboclos, de imigrantes pobres e começam a pautar essa literatura e essas vozes que vem da periferia. "Quando a gente vê as batalhas de Hip Hop, de Rap, as rodas de Carimbó hoje, percebemos as influências, heranças que o Grupo de Peixe Frito sedimentou a cem anos atrás", considera.
