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18/11/2021 | 18h02 - Atualizada em 19/11/2021 | 13h16

Paulo Freire em suas "Andarilhagens" pela América Latina e pela África em sua prática educativa

Reportagem: Carlos Boução

Edição: Dina Santos

A programação do Seminário do Centenário do Paulo Freire, apoiado pelo Governo do Pará, pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará e pela Prefeitura Municipal de Belém, na manhã desta quinta (18), teve duas mesas redondas sobre os temas "Educação Popular, Pensamento Freireano e Práxis Educativa na Amazônia", e "Paulo Freire, andarilho das utopias na América Latina e África: Solidariedade é internacional".

O professor e doutor Pedro Pontual, do Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, destacou em sua palestra as andanças de Paulo Freira nos países da América Latina após o golpe impetrado pelos militares em 1964. Já a doutora Jaqueline Freire, da Rede Internacional de Educação Popular Diálogos com a África, expôs a outra fase do exílio de Paulo Freire entre 1970 a 1980, após sua transferência para Genebra, quando assumiu o cargo de Consultor do Conselho Mundial das Igrejas, ganhando com isso uma dimensão mundial.

Em setembro de 1964, com 43 anos, Paulo Freire partiu para a Bolívia levando na bagagem uma trajetória de experiências singulares na alfabetização de adultos, de grande alcance social, que rapidamente conquistaram atenção e respeito por parte de governos, educadores e intelectuais de todo o mundo.

Freire ficou muito pouco tempo na Bolívia, por causa da altitude de La Paz e também pelo golpe de Estado que derrubou o governo de Paz Estensoro. Seguiu para Santiago, no Chile, onde chegou em novembro de 1964. Viveu neste país até abril de 1969, quando foi convidado para lecionar nos Estados Unidos e também para atuar no Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, Suíça. Aceitou os dois convites, permanecendo inicialmente 10 meses em Harvard, onde deu forma definitiva ao livro Ação Cultural para a Liberdade. Nesse período, escreveu dois de seus livros mais conhecidos: Educação Como Prática da Liberdade e Pedagogia do Oprimido.

Como conselheiro educacional do Conselho de Igrejas, com sede em Genebra, Paulo Freire, ao lado de outros brasileiros fundou o Instituto de Ação Cultural – IDAC, cujo objetivo era prestar serviços educativos, especialmente aos países do terceiro mundo que lutavam por sua independência. Em 1975, Freire e a equipe do IDAC receberam o convite de Mário Cabral, ministro da Educação de Guiné-Bissau, para colaborarem no desenvolvimento do programa nacional de alfabetização daquele país. A África possibilitou a Paulo Freire e seus colaboradores o campo prático para as experiências pelas quais eles sempre lutou.

Entre 1975 e 1980, Freire trabalhou também em São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Angola, ajudando os governos e seus povos a construírem suas nações recém-libertadas do jugo português, através de um trabalho de educação popular. Neste período em Genebra, Paulo Freire "andarilhou" muito por alguns países do continente africano, asiático, europeu, americano e da Oceania, exercendo atividades político-educativas em vários países dos 5 continentes, mas de modo especial na Austrália, Itália, Nicarágua, Ilhas Fuji, Índia, Tanzânia e os países de colonização portuguesa.

Em 1980, Paulo Freire retornou ao Brasil com a decretação da anistia, para lecionar na PUC/SP e na Unicamp e, em 1991 retornou a lecionar na PUC-SP. De 1988 a 1997, ano de seu falecimento, voltou a escrever livros autorais e com outros educadores e a fazer inúmeros artigos e conferencias.

Pedro de Carvalho PontualPara o professor Pedro Pontual, Paulo Freire é um ícone da luta democrática e dos valores humanitários. "O seu pensamento é atual porque será sempre um instrumento de reinvenção de sua prática no contexto histórico atual, uma análise para ação permanente de modificação realidade em que estamos inseridos", fundamentou.

Já para a professora Jaqueline Freire, o seminário tem uma significação especial pois permitiu ser realizado com o apoio das Redes Parceiras para debater e revalorizar o legado político e educacional. "A minha palavra para significar este encontro é a gratidão", expôs ao plenário, sistematizando ainda em detalhes o envolvimento para a construção colegiada do seminário que teve a presença de significativos parceiros. "Desde o início fomos abrigados pelo Poder Legislativo, através do deputado Carlos Bordalo, presidente da Comissão de Direitos Humanos e de Defesa do Consumidor.

Deputado Carlos Bordalo

Bethânia Fidalgo Para a professora e doutora Bethânia Fidalgo Arroyo, presidente do Conselho Estadual de Educação e diretora da Escola do Legislativo, foi fundamental o apoio da ALEPA à organização e estruturação do evento. "Isto é uma demonstração da preocupação do Poder em debater fatores de geração de dificuldades políticas, sociais, econômicas, ambientais e outras que estamos inseridos e que precisaremos, enquanto desafios, enfrentar. A profa. Dra Edilza Costa, da Fundação Bosque/PMB, funcionou como mediadora da mesa redonda.

A Assistente Social Jeane Cabral, representando o MST, considerou que valorizar o pensamento de Paulo Freire é praticar, realizar para escrever um horizonte melhor.

Expuseram ainda o Prof. Dr. Durbens Nascimento (UFPA/NAEA e PPROEX); Euci Ana da Costa (CUT/PA); e a Profa Dra. Márcia Bitencourt (SEMEC/PMB). Esta mesa foi mediada pelo prof. Dr. João Colares, representando a UEPA - Cátedra Paulo Freire da Amazônia.

A programação prosseguiu pela parte da tarde. O debate com o tema "Direito à educação, Diversidade e Resistência: a Educação Popular em Movimento" contou com representantes do Ministério Público do Pará, Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), Liderança Indígena Tembé, Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Universidade Federal do Pará (UFPA).

Salomão Hage

O professor e Dr. Salomão Hage, da UFPA, disse que ao estudar pedagogia, Paulo Freire e outros autores perceberam a importância da relação com movimentos sociais. "Quando você se relaciona como os movimentos sociais, você aprende importância da ação coletiva, da luta pelo direito. Os povos indígenas, os que lutam por uma educação neste país, têm uma história", afirmou. "Paulo Freire nos ensina que a educação é um movimento de luta", concluiu.

"Educação Popular e Direitos Humanos em Tempos de Resistências: memórias, tempo presente e esperançar na Amazônia" foi tema da última mesa redonda do Seminário "Paulo Freire e a Educação Popular no Pará: Direitos Humanos, Democracia e Emancipação".

Os integrantes da mesa falaram que educação, democracia e resistências têm por objetivo refletir a contribuição da educação nos processos de resistências pela luta democrática. A atual conjuntura nacional e internacional convoca a população para a formulação de novas estratégias que promovam a disputa pela educação emancipadora e a democracia em contraponto aos projetos conservadores e fascistas que negam a participação política, recusam as liberdades democráticas e criminalizam as diferentes formas de resistências.

Maria dos Reis

O Movimento República de Emaús, que foi representado pela professora Maria dos Reis Almeida que disse: "Precisamos focar na educação das crianças que estão nas ruas. O educador social surge desse trabalho, Paulo Freire relatou essa prática e, daí surgiram estratégias para que eles (os meninos de rua) pudessem viver melhor. Isso é prática revolucionária, isso é Paulo Freire", afirmou.

Segundo o deputado Carlos Bordalo, o debate sobre educação popular e direitos humanos revela que ainda há desafios na Amazônia sobre a educação. "Temos muito o que fazer pela educação da nossa gente, mas valerá a pena. É preciso desenhar com clareza para o lugar que queremos seguir e isso se constrói através das lutas. O capital passa de forma avassaladora em nossa economia local, nos costumes e, principalmente nos que diz respeito a educação", afirmou. "Espero que este momento, os debates que tivemos aqui, nós sirva para reanimar esperança, para
tecer a agenda de lutas nos próximos tempos. Paulo Freire é nossa inspiração, o trabalho pedagógico deve ser recuperado. O Parlamento Estadual pode ser usado como ferramenta pedagógica, muito obrigado pela participação de todos. Paulo Freire vive", finalizou.