Acessibilidade

  • Item
    ...
  • Item
    ...

Você está em: Portal Alepa >> Notícias >> Deputados fazem diligência a Barcarena para apurar o incidente na Imerys RCC

Notícia

09/12/2021 | 11h35 - Atualizada em 09/12/2021 | 20h43

Deputados fazem diligência a Barcarena para apurar o incidente na Imerys RCC

Reportagem: Carlos Boução

Edição: Andreza Batalha

A caminho de Barcarena para realizar diligências na sede da Imerys Rio Capim Caulim, os deputados fizeram uma reunião no ônibus, onde repassaram as últimas informações colhidas pela assessoria do deputado Carlos Bordalo, que esteve na área logo depois da explosão e incêndio, recolhendo informações.

Entre estas, a informação de que a Imerys RCC está operando desde 2012 sem licenciamento. "Este é o décimo incidente ambiental com esta empresa. Os outros nove, estão comprovados nos inquéritos instaurados pelo Estado", informou Bordalo.

Além do presidente da Comissão de Direitos humanos,  Carlos Bordalo, também integraram a comitiva parlamentar o deputado Jaques Neves,  presidente da comissão de saúde; a deputada Ana Cunha, que é natural de Barcarena; a deputada Marinor Brito e a deputada federal Vivi Reis.

 Deputado Jaques Neves

A deputada estadual Marinor Brito e a deputada federal Vivi Reis falaram sobre as informações que recolheram sobre a exposição sofrida pela população das áreas próximas ao depósito da queima e dispersão no ar do hidrosulfito de sódio. Pelas informações disponíveis, a empresa não estava preparada para agir nesta situação emergencial, se confirmado, ferindo o Plano de Ação Preventiva. "A empresa não teve capacidade de resposta diante do incidente", avaliou Bordalo.

deputado Carlos Bordalo

Em Barcarena, a comitiva parlamentar foi recebida por representantes da empresa. Na reunião, os deputados solicitaram o envio de cópias de licenciamento operacional e de instalação.
Deputado Carlos Bordalo e deputada Marinor Brito ouvem explicações dos técnicos da empresa.
Juarez Borges, diretor industrial da Imerys RCC, e Wilney Paiva, diretor de operações, informaram como ocorreu o incidente. Em seguida, os deputados tiveram acesso ao galpão onde ocorreu o incidente do vazamento e combustão do Hidrosulfato de sódio (NA).  

O hidrossulfeto de sódio é um composto químico de fórmula NaSH. É um reagente útil na síntese de compostos orgânicos e inorgânicos de enxofre. É um sólido incolor que tipicamente cheira a sulfeto de hidrogênio devido à hidrólise pela umidade atmosférica. 

A Imerys RCC utiliza o produto químico no processo produtivo para branqueamento do caulim, subproduto mineral refinado pela empresa e que a faz ser a maior do mundo neste segmento.

Especialistas alertam que o alerta que o hidrossulfeto de sódio possui enxofre em sua composição e pode ser um material  perigoso para a saúde humana e do meio ambiente, causando problemas no trato respiratório, especialmente nos pulmões, e queimaduras.

 

Comunidade - Após ouvir os representantes da empresa e averiguar in loco o galpão onde ocorreu o incidente ambiental, os deputados estiveram no salão da Paróquia Cristo Rei, localizada a menos de 100 metros de uma das bacias de Rejeitos da empresa. Neste salão, algumas mulheres foram afetadas logo depois do incidente, e enumeraram problemas como "ardência nos olhos, na  garganta e até falta de ar", relatou a professora Euniceia Fernando Rodrigues de 46 anos, uma das 10 lideranças das comunidades representadas na assembleia.

Professora Euniceia

No encontro com as comunidades, também se manifestaram lideranças das localidades de Curupari, Castanheira, Industrial, Acuí, Vila do Conde, Tauá, Canaã, e Ilha de São João. As pessoas manifestaram a preocupação com a forma como o incidente pode afetar as comunidades em termos econômicos, ambientais e de saúde física e mental.

Os representantes dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, a Defensoria Pública e a representação da OAB explicaram como suas instituições irão proceder para apurar o ocorrido e responsabilizar civil e penal a empresa por mais este incidente. O décimo de grande proporções ocorrido nas dependências da Imerys RCC.

Prefeito Renato OgawaÀ tarde, os parlamentares foram recebidos pelo prefeito Renato Ogawa, acompanhado pelas secretárias de Meio Ambiente e de Saúde, que detalharam aos parlamentares as providencias tomadas pelo município a frente da situação. "Como não tínhamos informação nenhuma agimos de forma instintiva, mandamos mais ambulâncias para as Unidades de Saúde da Família, mandamos mais médicos e, devido a grande procura, elas começaram a funcionar 24 horas", destacou a secretária municipal de saúde Eugenia Teles. Segundo ela, foram feitos 72 atendimentos relacionados ao incidente na Imerys RCC. "Todos foram notificados como intoxicação endogina e todos os casos foram cadastrados no Sistema da Saúde da Família", disse aos deputados. "Os adultos entre 20 a 60 anos foram os mais afetados", concluiu.

Secretária de saúe Eugênia Teles

Os deputados avaliaram que este evento é grave e de grandes proporções, e vão propor a formação de uma Comissão de Acompanhamento Externo para exigir o cumprimento de todos os acordos judicias estabelecidos, bem como, as indicações das CPIs da ALEPA que se debruçaram sobre outras dinâmicas de crime ambiental ocorridos em Barcarena. "São 24 crimes de grande proporção no município e destes 10 foram produzidos na Imerys RCC, sendo que nove já estão devidamente investigados pelo governo Pará", enumera Bordalo.

Para o deputado Bordalo, os processos de licenciamento ambiental e operacional  não podem ser feitos por projeto ou por empresa, como é feito atualmente, mas como uma forma integrada, observando as sobreposições de impactos ambientais, sociais e econômicas.

"Já há dados que demonstram claramente que esta empresa só tem causado sofrimento à população local e ao nosso estado, e lamentavelmente descobrimos que ela está sem licença ambiental desde 2012, o que vem se arrastando desde o governo anterior. Isso não é justo com o estado, porque a licença pressupõe que a empresa tenha tomado as medidas para proteger a população, mas mesmo sem isso, ela está funcionando e causando danos", aponta Marinor Brito.

A deputada defendeu a presença das lideranças comunitárias, dos vereadores e da prefeitura na Comissão Externa do Legislativo, a ser submetida em plenário da Assembleia Legislativa do Estado do Pará por requerimento de Bordalo e Marinor.