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30/01/2023 | 14h43 - Atualizada em 31/01/2023 | 07h50

Janeiro Verde é o mês de prevenção ao câncer de colo de útero

Reportagem: Dina Santos

Edição: Dina Santos

No Brasil, o mês de janeiro é dedicado à prevenção contra o câncer de colo de útero. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), excetuando o câncer de pele não melanoma, o câncer de colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás do câncer de mama e do colorretal), atingindo mais de 17 mil mulheres por ano (estimativa de novos casos por ano no triênio 2023/2025). É também a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil.

A estimativa para 2023 é de 780 novos casos no Pará e 110 em Belém. A região Norte é a única no Brasil em que a incidência do câncer de colo de útero supera a do câncer de mama.

Atuação na Alepa - Pensando no fortalecimento de políticas públicas na prevenção do câncer, várias ações foram apresentadas pelos parlamentares na Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa).

Algumas dessas proposições já são realidades e beneficiam milhares de pessoas. É o caso da Lei de autoria da deputada e médica, Dra. Heloísa Guimarães (DEM), que instituiu a Campanha e a Semana Estadual de prevenção ao HPV (papiloma vírus humano) e combate ao câncer de colo do útero.

Deputada Heloísa Guimarães

"É importante essas campanhas que marcam o Dia Mundial do câncer, porque é uma doença muito temida e nós sabemos que ela tem uma parte que pode ser hereditária e a outra parte que são fatores de vida que inclinam para o surgimento da doença, por exemplo, o câncer de pulmão é mais frequente em quem é tabagista. Já o câncer de colo de útero é mais frequente em mulheres que não fazem o preventivo ou que na adolescência não tomaram a vacina ante HPV", afirma.

A "Campanha Estadual de Prevenção e Combate do Câncer Colorretal" também é lei estadual. A iniciativa é da deputada Diana Belo (DC), que propõe a prevenção da doença que atinge mulheres e homens. O diagnóstico é feito através do exame FIT - Teste Imuniquímico para Pesquisa de Sangue Oculto. "Nosso objetivo é conscientizar a população sobre a importância da realização de exame, estimular ações educativas por parte dos diversos segmentos e instituições públicas, além de divulgar informações, com o intuito de reduzir suas incidências", destaca a deputada.

O câncer de colo de útero é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano – o HPV, um vírus bastante comum. Algumas lesões causadas pelo HPV podem se tornar crônicas e, se não forem diagnosticadas precocemente, podem evoluir para o câncer.

A vacinação é a principal arma contra este câncer, sendo essa uma das prioridades das diretrizes da Organização Mundial da Saúde para a doença. A OMS reconhece a doença como um problema de saúde pública e estabeleceu que todos os países devem alcançar e manter uma taxa de incidência de menos de 4 novos casos de câncer do colo do útero a cada 100.000 mulheres por ano, até o fim da década.

Para tanto, criou três pilares principais de ação:

– Vacinação, com 90% das meninas totalmente vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade.
– Rastreamento – meta de 70% das mulheres rastreadas com exames
– Tratamento – 90% das mulheres com pré-câncer tratadas e 90% das mulheres com câncer invasivo gerenciadas.

Prevenível - Uma vacina capaz de evitar o câncer de colo de útero. Uma pesquisa publicada recentemente na The Lancet, uma das revistas científicas mais importantes do mundo, tem resultado extremamente animador sobre a eficácia da vacina contra o HPV no combate ao câncer de colo de útero. Os pesquisadores da Escola de Câncer e Ciências Farmacêuticas da King's College, de Londres constataram que a vacina contra o HPV reduziu a incidência do câncer de colo de útero em 87% no grupo de mulheres que participaram do estudo e que tomaram a vacina quando tinham 12 ou 13 anos.

A saúde dessas mulheres foi acompanhada pelos pesquisadores desde 2008. É a comprovação científica de que a vacina contra o HPV é uma das armas mais importantes no combate ao câncer de colo de útero, que é um recurso capaz de erradicar a doença para as gerações futuras.

O HPV é responsável por cerca de 90% os casos de câncer de colo do útero e a doença PODE ser evitada com a vacinação em massa.

"O número anual de mortes por câncer de colo de útero é de cerca de 6 mil e 500 mulheres por ano, no Brasil. Veja se não é um absurdo total a gente perder tantas vidas por ano para um câncer que é totalmente prevenível", afirma a oncologista Bianca Lastra. "Por isso, o resultado dessa pesquisa é tão importante", comemora a médica. "Se conseguirmos a vacinação em massa contra o HPV, que as pessoas usem preservativo e que as mulheres com mais de 25 anos façam o Papanicolau, anualmente, estaremos no caminho da erradicação do câncer de colo de útero, como já conseguiram países como Austrália e Canadá", resume a médica.Oncologista Bianca Lastra

Vacinação X negação - A maioria dos casos de câncer de colo de útero tem o diagnóstico em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e a cura. "É angustiante, pois sabemos que é um tumor que poderia ser evitado. Nos países que fazem a vacinação em massa e controle, o número de casos de câncer de colo de útero é muito pequeno. Eles caminham para a erradicação da doença. No Brasil ainda temos uma incidência enorme, apesar de termos um Programa Nacional de Imunização que é referência no mundo, com as ferramentas necessárias para prevenir a doença", avalia a médica.

No Brasil, a vacina está disponível na rede pública para meninas e meninas entre 9 e 14 anos. Essa faixa etária foi escolhida por ser a que apresenta maior benefício pela grande produção de anticorpos e por não ter sido exposta ao vírus. O objetivo é que as crianças e adolescentes sejam vacinados antes de iniciar a vida sexual. "Não se trata de uma vacina contra DST´s (doenças sexualmente transmissíveis), é muito mais do que isso. É uma ferramenta eficaz na prevenção do câncer, mas boa parte da população não está aproveitando essa oportunidade por desinformação e preconceito", lamenta a médica.

No Brasil, apesar de as doses estarem disponíveis nos postos de saúde, a cobertura vacinal contra o HPV é considerada "insatisfatória" por especialistas na área. Numa análise publicada no final de 2020, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) aponta que 70% das meninas de 9 a 15 anos e pouco mais de 40% dos meninos de 11 a 14 anos tomaram a primeira dose da vacina.

Na segunda dose, os índices de vacinados baixam para 40% e 30%, respectivamente. O ideal, segundo a entidade, é que as taxas atingissem os 80% em ambos os sexos. São números bem abaixo do esperado e dificultam o cumprimento da meta da OMS de eliminar o câncer de útero até 2030.

Um argumento comum para negar a imunização é a crença errônea de que a vacina seria um passe livre ou incentivo ao sexo entre adolescentes. "Os pais têm dificuldade de entender que não é uma liberação para a atividade, apenas uma vacina contra um vírus que pode resultar em câncer", explica Bianca Lastra.

Também há muito preconceito em relação à vacinação dos garotos. "É necessário entender que a vacinação para o menino não é só para proteger a menina. Eles também estão sujeitos a outros tipos de câncer em que a imunização ajuda na prevenção", lembra Bianca. Há outros tipos de câncer relacionados ao HPV, como os de boca e orofaringe, vulva, pênis e canal anal. "Nos casos em que a doença já foi confirmada, o principal desafio é garantir um diagnóstico mais precoce da doença, para termos mais sucesso com os tratamentos que têm evoluído, com a utilização de novas drogas, que melhoram o prognóstico da doença avançada, como a imunoterapia, que tem sido incorporada no tratamento do câncer de colo uterino metastático", finaliza a médica.