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Notícia

08/03/2023 | 14h30 - Atualizada em 08/03/2023 | 16h37

Alepa chama atenção para prevenção do câncer de colo de útero no Março Lilás

Reportagem: Natália Mello

Edição: Dina Santos

A Campanha Março Lilás é realizada anualmente, todo mês de março, para chamar atenção para a importância de prevenir o câncer de colo de útero. De acordo com dados do Departamento de Bem-Estar Social do Poder Legislativo (DEBS), da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), a região Norte é a única no Brasil em que a incidência do câncer de colo de útero supera a do câncer de mama, e a vacina contra HPV pode reduzir em 87% a incidência da doença.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), excetuando o câncer de pele não melanoma, o câncer de colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás de câncer de mama e do colorretal), atingindo mais de 17 mil mulheres por ano no Brasil – essa é a estimativa de novos casos por ano no triênio 2023/2025. No Pará, a estimativa é registrar 780 novos casos nesse período, sendo 110 em Belém somente em 2023.

O câncer de colo de útero é, também, a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Além disso, há outros tipos de câncer relacionados ao HPV, como os de boca e orofaringe, vulva, pênis e canal anal. A deputada de sexto mandato, Ana Cunha (PSDB), médica ginecologista e obstetra, lembra que, ainda na sua primeira legislatura, criou a Semana de Atenção à Orientação e Coleta do Papa Nicolau.Deputada Ana Cunha

"O Papiloma vírus é um dos principais causadores do ato do câncer de colo de útero, que é o HPV. Precisamos muito ter esse diálogo com as mulheres. Quantas mulheres, às vezes, por vergonha, por não conhecer, deixa de ir ao ginecologista? Tem mulher que se sente encabulada, e aqui no Norte ainda temos um alto índice, por várias situações de realidades que precisam ser melhor analisadas, mas principalmente a conscientização de buscar o exame", declarou a parlamentar.

Ana Cunha explica, ainda, algumas indicações para fazer o exame, como a necessidade de não estar menstruada, de não ter se relacionado ou usado qualquer tipo de creme vaginal nos dias que antecedem o exame. Para ela, seria de grande ajuda a conscientização nas escolas. "Parabenizo o Estado pela criação do TerPaz, o programa que encosta um carro e realiza tantos exames num dia. É um exame que salva vidas, e a mulher é aquele elo agregador, é um imã que conduz a família como um todos, e muitas vezes ela esquece dela. Então por isso é muito importante a orientação que se faça pelo menos uma vez por ano", finaliza.

A diretora do Debs, Karla Lobato, reforça o objetivo da campanha Março Lilás na Casa de Leis, que é sensibilizar, em especial, as servidoras do sexo feminino e parlamentares sobre a prevenção e o combate ao câncer de colo de útero.Karla Lobato

"É o terceiro tumor mais frequente no público feminino e precisamos falar sobre as formas de prevenção, a gente tem, além do exame preventivo, tem a vacina contra o HPV, que na rede básica já está disponível para meninas entre nove e 14 anos. A prevenção ainda é a melhor forma de tentar combater esse tipo de câncer, e quando a gente fala em prevenção, é também um gesto de amor a si. Então, no mês das mulheres, estamos contribuindo com essa campanha", analisou Karla.

Causas
O câncer de colo de útero é causado pela infecção persistente provocada por alguns tipos do Papilomavírus Humano – o HPV, um vírus bastante comum. Algumas lesões causadas pelo HPV podem se tornar crônicas que, se não forem diagnosticadas precocemente, podem evoluir para o câncer.

Formas de combate
A vacinação é a principal arma contra o câncer de colo de útero, sendo essa uma das prioridades das diretrizes da Organização Mundial da Saúde para a doença. A OMS reconhece a doença como um problema de saúde pública e estabeleceu que todos os países devem alcançar e manter uma taxa de incidência de menos de 4 novos casos de câncer do colo do útero a cada100.000 mulheres por ano, até o fim da década. Como diminuir o número de casos?

– Vacinação, com 90% das meninas totalmente vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade.
– Rastreamento – meta de 70% das mulheres rastreadas com exame Papanicolau.
– Tratamento – 90% das mulheres com pré-câncer tratadas e 90% das mulheres com câncer invasivo gerenciadas.

Prevenível - Uma vacina capaz de evitar o câncer. Para quem conhece minimamente o assunto parece impossível. Afinal, existem mais de 200 tipos de câncer. O que chamamos de câncer são muitas doenças diferentes. Mas, uma pesquisa publicada recentemente na The Lancet, uma das revistas científicas mais importantes do mundo, faz repensar essa possibilidade, pelo menos com relação ao câncer de colo de útero.

O resultado da pesquisa da Lancet é extremamente animador sobre a eficácia da vacina contra o HPV no combate do câncer de colo de útero. Os pesquisadores da Escola de Câncer e Ciências Farmacêuticas da King's College, de Londres, constataram que a vacina contra o HPV reduziu a incidência do câncer de colo de útero em 87% no grupo de mulheres que participaram da pesquisa e que tomaram a vacina quando tinham 12 ou 13 anos.

A saúde dessas mulheres foi acompanhada pelos pesquisadores desde 2008. É a comprovação científica de que a vacina contra o HPV é uma das armas mais importantes no combate ao câncer de colo de útero, que é um recurso capaz de erradicar a doença para as gerações futuras.

O HPV é responsável por cerca de 90% os casos de câncer de colo do útero e a doença PODE ser evitada com a vacinação em massa.

"O número anual de mortes por câncer de colo de útero é de cerca de 6 mil e 500 mulheres no Brasil. Veja se não é um absurdo total a gente perder tantas vidas por ano para um câncer que é totalmente prevenível", ressalta a oncologista Paula Sampaio. "Por isso, o resultado dessa pesquisa é tão importante", comemora a médica. "Se conseguirmos a vacinação em massa contra o HPV, que as pessoas usem preservativo e que as mulheres com mais de 25 anos façam o papanicolau, anualmente, estaremos no caminho da erradicação do câncer de colo de útero", resume a médica.oncologista Paula Sampaio

Vacinação X negação - A maioria dos casos de câncer de colo de útero tem o diagnóstico em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e a cura. "É angustiante, pois sabemos que é um tumor que poderia ser evitado. Nos países que fazem a vacinação em massa e controle, como a Austrália e o Canadá, por exemplo, o número de casos de câncer de colo de útero é muito pequeno. Eles caminham para a erradicação da doença. No Brasil ainda temos uma incidência enorme, apesar de termos um Programa Nacional de Imunização que é referência no mundo, com as ferramentas necessárias para prevenir a doença", avalia a médica.

No Brasil, a vacina está disponível na rede pública para meninas e meninos entre 9 e 14 anos. Essa faixa etária foi escolhida por ser a que apresenta maior benefício pela grande produção de anticorpos e por não ter sido exposta ao vírus. O objetivo é que as crianças e adolescentes sejam vacinados antes de iniciar a vida sexual. "Não se trata de uma vacina contra DST´s (doenças sexualmente transmissíveis), é muito mais do que isso. É uma ferramenta eficaz na prevenção do câncer, mas boa parte da população não está aproveitando essa oportunidade por desinformação e preconceito", lamenta a médica.

No Brasil, apesar de as doses estarem disponíveis nos postos de saúde, a cobertura vacinal contra o HPV é considerada "insatisfatória" por especialistas na área. Numa análise publicada no final de 2020, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) aponta que 70% das meninas de 9 a 14 anos e pouco mais de 40% dos meninos de 11 a 14 anos tomaram a primeira dose da vacina.

Na segunda dose, os índices de vacinados baixam para 40% e 30%, respectivamente. O ideal, segundo a entidade, é que as taxas atingissem os 80% em ambos os sexos. São números bem abaixo do esperado e dificultam o cumprimento da meta da OMS de eliminar o câncer de útero até 2030.

Um argumento comum para negar a imunização é a crença errônea de que a vacina seria um passe livre ou incentivo ao sexo entre adolescentes. "Os pais têm dificuldade de entender que não é uma liberação para a atividade, apenas uma vacina contra um vírus que pode resultar em câncer", explica Paula Sampaio.

Também há muito preconceito em relação à vacinação dos garotos. "É necessário entender que a vacinação para o menino não é só para proteger a menina. Eles também estão sujeitos a outros tipos de câncer em que a imunização ajuda na prevenção", lembra Paula Sampaio. "Nos casos em que a doença já foi confirmada, o principal desafio é garantir um diagnóstico precoce da doença, para termos mais sucesso com os tratamentos que têm evoluído, com a utilização de novas drogas, que melhoram o prognóstico da doença avançada, como a imunoterapia, que tem sido incorporada no tratamento do câncer de colo uterino metastático", finaliza a médica.